O PROFESSOR FACILITADOR DA CRIATIVIDADE (1999)

“A teacher is an artist (…) and might even be the greatest of the artists, since the medium is the human mind and spirit”.   Torrance & Safter, 1990

Seminário realizado em 3 de Dezembro de 1999

Local: Auditório da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Lisboa

Organização: Associação Educativa para o Desenvolvimento da Criatividade 

Público Alvo: Educadores, Professores, Estudantes e todas as pessoas interessadas no tema

INTRODUÇÃO

“Ambição de acordar em cada um, através da educação, a faculdade distintiva da espécie humana: a criatividade.”   Mensagem de Frederico Mayor, Director-Geral da UNESCO, por ocasião do cinquentenário da Organização em 10 de Outubro de 1995

Actualmente existe uma consciência generalizada de que a criatividade não é uma capacidade rara, apenas encontrada em algumas pessoas superdotadas no campo das artes, das ciências e de outras profissões ditas “criativas”, mas que, pelo contrário, todos temos um potencial criativo susceptível de ser desenvolvido. Diversos estudos provaram que a capacidade criativa é uma característica inerente à espécie humana como um todo e que podemos demonstrar criatividade em tudo o que fazemos. No entanto, apesar desta universalidade, já em 1959 Anderson se interrogava: “Entre as crianças, a criatividade é algo universal; entre os adultos é quase inexistente. A grande questão é esta:  O que aconteceu a esta capacidade humana, imensa e universal?” ANDERSON, H.H.(1959): Creativity and its cultivation, Harper, New York

O mundo de hoje muda a um ritmo acelerado. A educação não pode deixar de acompanhar esse ritmo, sob pena de cristalizar. Uma das finalidades da educação é criar indivíduos abertos à mudança, criar uma sociedade em que as pessoas se sintam mais à vontade na mudança do que na rigidez. Os métodos activos, centrados no desenvolvimento do potencial adaptativo e criativo da pessoa, são os mais adequados a este propósito. Consequentemente, os educadores devem eles próprios ser abertos à mudança e empenhados na sua actualização constante.

A importância que o estímulo da criatividade deve ter na função docente surge expressa de forma explícita no Estatuto da Carreira Docente que, no seu artigo 10º, refere como deveres profissionais específicos do pessoal docente, entre outros:  “Contribuir para a formação e realização integral dos alunos, promovendo o desenvolvimento das suas capacidades, estimulando a sua autonomia e criatividade, incentivando a formação de cidadãos civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida da comunidade.”

A Escola pode cultivar o gosto pela criação, pela curiosidade e pelo deslumbramento; pode favorecer a construção de um ambiente favorável à criatividade, permitindo que o aluno aprenda a definir problemas, a testar hipóteses, a explorar, a questionar, a experimentar, a manipular, a ouvir, a olhar, a sentir…   Nesta tarefa surge como fundamental o papel dos professores, não apenas como transmissores de conhecimentos e perícias, mas sim como facilitadores de um processo de desenvolvimento como pessoa.

OBJECTIVOS

  • Fornecer aos professores elementos de reflexão que possam contribuir para um melhor posicionamento/desempenho face ao desenvolvimento da criatividade.
  • Constituir uma oportunidade de partilha de saberes e experiências educativas e de divulgação de resultados de investigação educacional na área da Criatividade no processo de ensino- -aprendizagem.
  • Prestar uma homenagem a todos os professores e agentes de ensino que, apesar das condições por vezes adversas de trabalho e reconhecimento social, prosseguem uma atitude criativa perante o ensino e se constituem como exemplos de tenacidade e profissionalismo.

ORADORES/DINAMIZADORES E COMUNICAÇÕES

MORRIS I. STEIN  Tendo iniciado a sua carreira académica na Universidade de Chicago, onde fundou o Centro de Estudos da Criatividade e Saúde Mental, Morris Stein é hoje professor “Emeritus” da Universidade de Nova Iorque, e uma das figuras principais da investigação em criatividade, tendo publicado inúmeros artigos e livros sobre a matéria, donde se destacam os dois volumes que constituem hoje um dos maiores clássicos da literatura da especialidade – Stimulating Creativity. Juntamente com Paul Torrance, Stein é um dos poucos cientistas ainda vivos, de um conjunto notável, de onde ressaltam nomes como J. P. Guilford, Calvin Taylor, Donald Mackinnon, e F. Barron, que nos inícios dos anos cinquenta impulsionaram de forma decisiva a investigação em criatividade.

O professor Stein é um dos poucos investigadores que já trabalhou com crianças sobredotadas e adultos criativos no campo das artes e das ciências, tendo estudado dados biográficos e de personalidade, percepção, resolução de problemas e a influência das organizações na criatividade. Devem-se-lhe vários instrumentos de medida, de onde se destacam os Inventários Biográficos e o Physiognomic Cue Test.

Um dos seus livros – Making the Point – encontra-se traduzido para Português. A sua última obra denomina-se “Evocative images: The Thematic Apperception Test and the Art of Projection” (1999).

“SOCIAL AND PSYCHOLOGICAL FACTORS IN A STUDY OF CREATIVITY”  A comunicação será baseada num dos textos mais importantes da segunda metade deste século, relativo à teoria da criatividade. Publicado em 1953, no Journal of Psychology, o texto constitui um estudo exaustivo do indivíduo criativo: a sua personalidade, o seu trabalho, o processo através do qual a criatividade é alcançada, e a influência das variáveis culturais, relativas ao ambiente que circunda a criação.

Partindo de uma definição perfeitamente actual (“criatividade é um processo que resulta em novidade e que é considerada útil, convincente ou satisfatória por um significativo grupo de pessoas num determinado período”), o autor explica o significado de cada um dos termos-chave usados na definição, respondendo depois a perguntas decisivas para a compreensão do fenómeno criativo, tais como “Porque é que o indivíduo cria?”. Analisando a transacção entre o indivíduo e o ambiente, M. Stein descreve como determinadas características de personalidade interagem preferencialmente nessa transacção, juntamente com os vários estádos que o indivíduo atravessa na concepção do acto criativo: formulação da hipótese, testagem da hipótese e comunicação dos resultados. Nesta comunicação vai apresentar dados relativos a investigações feitas com professores.

JOSÉ FANHA  Licenciado em Arquitectura pela Escola de Belas Artes de Lisboa, José Fanha é professor efectivo do ensino secundário, mas é como profissional da escrita que é conhecido e que se tornou uma figura pública. Poeta, declamador, actor, guionista e escritor, José Fanha produziu textos para teatro, cinema, rádio e, em especial, para televisão, onde estão presentemente em cena algumas das séries de que é autor: “Docas 2”, e “Nós os Ricos”. Escreveu igualmente várias centenas de letras para canções, tendo inclusivé ganho o Festival da Canção RTP em 1996, com a canção “O meu coração não tem cor”. “Cartas de Marear”, “Eu sou Português Aqui”, “Breve Tratado das Coisas da Arte e do Amor”, são exemplos da sua extensa bibliografia em poesia e edições para crianças.

“A MAIS BAIXA PROFISSÃO DO MUNDO”  Num estilo muito próprio, misto da sua própria experiência como professor e da sua sensibilidade de artista, José Fanha surpreender-nos-á com textos e poemas da sua autoria, à volta de um título sem dúvida original.

DAVID DE PRADO DIEZ  David de Prado Diez é director do Mestrado em Criatividade Aplicada Total, na Universidade de Santiago de Compostela, desde 1994. Licenciado em Filosofia Pura e Pedagogia, e Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Stanford, com a tese “Modelos criativos para a mudança docente”, o professor David de Prado exerceu funções docentes em todos os níveis de ensino, foi consultor da FAO para o desenvolvimento criativo, na Venezuela e na Bolívia, e tem realizado inúmeras conferências e cursos sobre metodologias criativas a profissionais da educação, artes e empresas.

Como livros mais significativos destacam-se “El Torbellino de Ideas” (1982), “La imaginación creadora” (1980), “Técnicas creativas y Lenguaje Total” (1986), “Manual de Activación Creativa” (1987), e “Reorientar Creativamente la Escuela” (1990).

Pela sua acção nos domínios da criatividade, em especial nos países da América Latina, e pelo papel desempenhado nos êxitos alcançados nas várias edições da “CRIATIVA”, em Beja, o professor David de Prado é hoje uma das principais figuras de referência no mundo científico Ibero-Americano, ligado à criatividade e à educação.

“LA CREATIVIDAD PARA DAR UN SENTIDO DE GENUINA PLENITUD A LA VIDA Y A LA EDUCACIÓN”  Começando por caracterizar o sentido integrador da criatividade, como uma matriz de um novo estilo de pensar e expressar-se no ensinar e no aprender, no comportamento pessoal e profissional, e em todos os aspectos da vida social, David de Prado propor-nos-á um modelo de criatividade expressiva total como princípio germinal da educação contemporânea. Posteriormente abordará o sentido original e profundo da criatividade, em termos de construção de um caminho livre e pessoal na vida pessoal e profissional (“Se hace camino al andar”); prossegue com a análise da criatividade como seiva vivificante da língua e do pensamento, de um novo tipo de avaliação transformadora, no âmbito da reforma educativa, e termina explicitando as directizes principais do programa “EDUCREA: EDUCACIÓN CREATIVA PARA TODOS”.

MARIA DE FÁTIMA MORAIS   Licenciada em Psicologia pela Universidade do Porto, em 1987, e doutorada em Psicologia da Educação pela Universidade do Minho em 1999, com uma tese na área da Criatividade, Fátima Morais é presentemente professora auxiliar da Universidade do Minho, onde tem realizado diversos trabalhos de investigação sobre desenvolvimento cognitivo e avaliação do desenvolvimento em jovens e adultos. Publicou já vários artigos e livros donde se destacam os títulos “Inteligência e treino cognitivo: Um desafio aos educadores”. Braga: SHO, e “Programa Promoção Cognitiva” (2ª ed.). Barcelos: Didalvi.

“CRIATIVIDADE E EDUCAÇÃO: REFLECTIR ESPECIFICIDADES COGNITIVAS?”  No Estudo da criatividade emergem paralelamente um forte investimento e uma forte complexidade. Tal complexidade leva-nos, por sua vez, a descobrir ambiguidades a nível da própria definição do conceito. A uma multiplicidade de definições, terminologias e padrões de realização, não tem correspondido o esforço de operacionalização, de delimitação e de integração necessário.

Julga-se, então, importante aprofundar tal desequilíbrio para um conhecimento lúcido do estatuto desse objecto de saber. Apenas assim poderão sair fundamentadas, nas suas potencialidades e limitações, acções de investigação, avaliação e intervenção, seja qual for o contexto. É com esta preocupação de alerta face a fragilidades envolventes do conceito, que serão apresentadas informações, interrogações e lacunas, assim como a vontade de uma leitura simultaneamente rigorosa e flexível que o estudo da criatividade parece exigir.

JOÃO AGUIAR  Licenciado em jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas, o escritor João Aguiar iniciou a sua actividade como jornalista e redactor em vários jornais e na televisão, tendo sido assessor de imprensa do Ministro Augusto Ferreira do Amaral. Guionista de teatro, rádio, e cinema, iniciou-se essa actividade na televisão como parte de um grupo de produção da “Rua Sésamo”, sendo igualmente autor das séries “A Marquesa da Vila Rica” (1990), “Os Melhores Anos, I e II” (1990 e 1993). É no entanto como escritor que se tornou mais conhecido, tendo já publicado sete romances e um livro de contos, de que destaca a sua obra mais conhecida – “A Voz dos Deuses” – em 7ª edição, traduzida em várias línguas, e a sua última – “O Ano do Dragão”. Conta ainda com seis livros para crianças da conhecida série “O Bando dos Quatro”.

“OS DEZ MIL IMORTAIS”  João Aguiar aborda a sua experiência de animação escolar, discorrendo sobre a qualidade docente e as características que ele próprio reconhece não possuir, mas que fazem do retrato dos bons professores que ele tem conhecido a personificação de um artista; alguém que possui uma arte mágica para transformar temas aborrecidos em maravilhas de comunicação.

Prossegue depois com a analogia entre esta classe e os guerreiros que eram encarregues de proteger os antigos reis persas, cujo efectivo era mantido de tal forma constante que dava a impressão de ser constituídos por imortais – “os dez mil imortais” – e a classe dos professores na sociedade contemporânea.

DORIS J. SHALLCROSS  Recentemente aposentada da Universidade de Massachusetts, onde dirigiu o Programa de Graduação em Criatividade, a professora Doris Shallcross é presidente do Shallcross Creativity Institute, onde trabalha com candidatos a doutoramento em fase de especialização em comportamento criativo, e dá aulas no Mestrado em Criatividade Aplicada Total, da Universidade de Santiago de Compostela. Foi presidente da Creative Education Foundation (CEF), e encontra-se actualmente à frente do Pioneer Valley Performing Arts Charter High School. Foi autora de 4 livros e dezenas de artigos, e é presentemente consultora de redacção do Journal of Creative Behavior. No entanto, talvez um dos factores mais relevantes no seu curriculum tenha sido a sua actuação como professora do ensino secundário, cuja reputação no âmbito da criatividade veio a ser unanimemente reconhecida, a ponto de ser convidada para trabalhar com Alex Osborn, fundador da CEF.

“TEACHING THINKING PROCESSES: SURVIVAL IN THE NEW MILLENIUM”  A comunicação aborda uma perspectiva de ensino para o próximo milénio, começando por separar as vertentes de análise do desenvolvimento do aluno: intelectual, emocional e espiritual. Relativamente à primeira, Doris descreve os processos de pensamento crítico e criativo; primários, secundários e terciários; e os níveis de consciência, concentrando-se depois em interessantes aplicações práticas destes conceitos no ensino, utilizando ferramentas do tipo: resolução criativa de problemas, sinética, Mandalas, meditação, música, imagética orientada e relaxação. Por último, estabelece uma ponte entre o seu percurso no ensino e os conceitos desenvolvidos durante a comunicação.

Textos  publicados em  CADERNOS DE CRIATIVIDADE nº 1

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